Todo ano temos um momento em que o mundo tecnológico escolhe o foco da vez, como aconteceu recentemente com linguagem e agilidade, por exemplo. Só que ultimamente o Design System vem roubando a cena, não somente em conversas sobre design, mas também nas de tecnologia, em geral.

Companhias de diversos segmentos como Shopify, IBM e Salesforce têm se destacado no mercado e notado as vantagens a partir da aplicação deste produto. A plataforma Airbnb, por exemplo, conta com sistema de linguagem de design que fornece às equipes de produto um ponto de partida para criar experiências de usuário mais eficientes. A empresa adotou a estratégia de aumentar o negócio primeiro com a home, antes de adicionar experiências de viagens, o Airbnb Plus, entre outros. E como essas implementações se tornaram possíveis? À medida em que os negócios e o número de colaboradores de design e engenharia foram dimensionados, o sistema passou a ajudar na definição da base do design do site, permitindo a resolução de problemas complexos do usuário.

Sendo assim, quais seriam as vantagens do Design System? Antes de pontuá-las, é necessário explicar o conceito. Seria mais simples definir que se trata de uma biblioteca componetizada criada por designers e devs, que ajuda a criar velocidade, manter consistência da interface e facilitar a comunicação nas equipes de tecnologia. No entanto, vale uma conclusão mais complexa, que indica que é um produto vivo em constante evolução, servindo a um ecossistema e trazendo resultados tangíveis, que vão além da consistência – ou “um produto que serve a outros produtos”, como resumiu o cofundador da EightShapes, Nathan Curtis.

Além da consistência na interface – entre pontos de contato, telas e momentos -, facilidade no uso e confiabilidade, que impactam a experiência do usuário, um dos principais benefícios do Design System está na manutenção eficiente. A atualização do componente se reflete em todos os lugares onde ele é usado, o que reduz erros. Outro ponto a favor é o uso de tempo. Afinal, designers e programadores não precisam reiniciar do zero e construir tela a tela, otimizando as horas de trabalho com a diminuição da identificação de problemas, criação de estratégia, entre outros.

O custo-benefício também deve ser considerado. Sendo assim, talvez valha a pena rascunhar contas simples, a partir de uma comparação. Se uma empresa conta com uma pessoa Desenvolvedora e outra UX Designer que trabalham duas horas por semana na construção de componentes novos, levando em conta o salário médio, por exemplo, na cidade de São Paulo, onde a primeira tem salário médio de R$ 7,4 mil (R$ 46 por hora) e a segunda R$ 5,9 mil (R$ 39 por hora), a soma das duas chega a R$ 166 semanais. Aparentemente, o valor parece indiferente. Porém, na hora da escalabilidade, o valor será de R$ 664 em um mês, chegando a pouco mais de R$ 7,9 mil no ano. Então, vale a reflexão: e se essa mesma companhia tem cinco equipes com a mesma configuração? Pois é, na multiplicação por cinco, o total fica em torno de R$ 39,8 mil.

Todos esses fatores acima trazem vantagens como times mais ágeis, que se tornam mais produtivos e eficientes na construção e manutenção de produtos, tornando-os mais escaláveis. Em contrapartida, quando uma empresa opta por não priorizar a consistência, corre-se o risco de ter componentes mal gerenciados, retrabalhos e inconsistências, que inevitavelmente geram baixa escalabilidade.

As empresas referência em tecnologia têm percebido a cada ano a importância da aplicação de técnicas de UX, principalmente com foco na melhoria da experiência do cliente. Neste contexto, o Design System tem mostrado que pode ser mais que uma tendência, mas, sim, uma solução.

Renato Paixão

Product Designer carioca e criança que nunca parou de perguntar o porquê das coisas.