Olá! No artigo de hoje, darei continuidade à série de artigos sobre a mais recente atualização do Guia do Scrum, puxada pelo Giovanni Bassi, aqui no blog. Falarei um pouco sobre respeito e como esse valor pode ser facilmente mal interpretado, se não tivermos o devido cuidado.

Tenho uma história pra contar pra vocês…

Conheça Ephrain, um ótimo desenvolvedor, que trabalha há mutos anos em uma software house. Super Eph, como é conhecido pelos colegas, é sempre o primeiro a chegar: ele prefere assim! Pela manhã, sem ninguém do time ou do cliente, é mais fácil se concentrar e escrever um código de qualidade! Esse é o seu horário preferido de trabalho.

Aliás, Ephrain trabalha, trabalha e trabalha! O dia inteiro, incansavelmente! Não é raro que, ao invés de almoçar com os colegas, ele peça algum lanche rápido que possa ser degustado na sua própria mesa: ele prefere assim! Enquanto os colegas estão conversando sobre o futebol ou a novela, ele está refatorando o código! Ou estudando como pode melhorar seu código.

Ephrain adora estudar! É uma referência na empresa. Os colegas pensam que não existe desafio que ele não consiga superar. Super Eph gosta de resolver as coisas. Se alguém lhe pede ajuda, ele é tão solícito que responde, sem pestanejar: “faz um commit aí que eu já vejo o que posso fazer”. Essa é a deixa para Super Eph entrar em ação! Eph entende o código (e, se não entende, refatora); Eph entende a necessidade de negócio (e, se não entende, vai atrás do analista responsável para entender); Eph entende o desafio do colega. E resolve!

Talvez por isso seja conhecido como Super Eph! Ele sempre salva o dia!

Eph também é o último a sair, quase todos os dias: ele prefere assim! Afinal, passou ajudando tantas pessoas, que precisa correr atrás do tempo perdido com suas próprias atividades. Mas não tem problema nenhum, por que Ephrain gosta do que faz. Ele gosta de ver a satisfação no rosto das pessoas que ajuda! Ele gosta do desafio de entender o código de todos.

Até o dia em que apareceu Jenny, a nova estagiária!

Ela também tinha um problema que não conseguia resolver; ela também precisava de ajuda! Mas ela não pedia ajuda ao Super Eph! Todos os colegas falavam que ele teria a resposta, mas ela queria chegar na resposta, talvez com orientação e não com a resposta em si.

Foi aí que Eph teve uma ideia! Talvez Jenny estivesse com receio de pedir ajuda. Mas ele ajudaria de qualquer forma, pois gostaria de ver a expressão de agradecimento em sua face! Então, esperou Jenny ir embora! Esperou todos irem embora. Então, lá foi Ephrain verificar o trabalho de Jenny. E, olha, poderia ser um desafio considerável para qualquer um dos colegas de empresa. Mas não teria problema! Super Eph estava lá pra ajudar! Entendeu, refatorou e resolveu o problema!

Para não constranger a moça, Eph resolveu deixar um recado na mesa de Jenny! “Salvei seu dia! Resolvi seu problema! :)”

No dia seguinte, Eph estava ansioso! Mal podia esperar para ver a reação de Jenny! Não que ele quisesse ser visto como o melhor profissional da empresa; ele apenas gostava de ajudar as pessoas.

Eph observou cada movimento de Jenny naquela manhã. E ela parecia bastante irritada com algo. “Será que ela esbarrou em algum outro problema?”, pensou Eph. Mas, dessa vez, Super Eph não deixaria a moça sofrer por tanto tempo! Foi quando ele viu Jenny indo em direção ao café e foi atrás!

Oi! Eu sou o Eph! Resolvi seu problema no código ontem!

Mas Eph não estava preparado para o que iria ouvir em seguida:

Eu sei que estou aqui há poucas semanas; eu sei que não sei tudo. Mas, se você tivesse me ajudado a aprender coisas que eu não sou tão boa, teria sido muito mais valioso do que julgar que eu só precisava de uma resposta pronta…

Essa história de ficção, que poderia ser real!

No nosso dia a dia, encontramos muitas pessoas que acreditam que nos ajudam resolvendo nossos problemas. Nossos pais provavelmente já fizeram muito disso. Entretanto, é muito mais respeitoso com as pessoas que as ajudemos a resolverem seus problemas sozinhas. Devemos, cada vez mais, ser facilitadores e não detentores de conhecimento.

Pense: quantas coisas você é realmente bom? E quantas coisas pode melhorar? Não seria muito mais recompensador usar suas habilidades para ajudar a disseminar o conhecimento, ao invés de segurá-lo ou tentar resolver todos os problemas do mundo?

Ajudar pessoas e profissionais a crescerem pessoal e profissionalmente é muito mais valioso que criar uma geração de dependentes do nosso heroísmo. Talvez isso faça bem ao ego. Mas só isso.

Por outro lado, o que é mais recompensador: ter um problema a menos ou ter escalado mais um degrau na escada do conhecimento?

O mindset ágil promove um ambiente de respeito. Respeitamos o código dos colegas, sejam juniores, plenos, seniores, homens, mulheres, brancos ou negros. Respeitamos o trabalho dos testers, que ralam para nos ajudar a entregar um software melhor.

Como agilistas, respeitamos nossos usuários: usamos nosso conhecimento para ajudar com que eles mesmos salvem o seu dia. Ou que todos salvemos o dia! Juntos! Sem julgamentos, apenas colaborando!

Desentendimentos acontecem! Então, chame a pessoa para tomar um café e resolver a questão.

O verdadeiro herói é aquele que respeita pessoas, seus skills, opiniões e experiências diversas. A diversidade (em todos os sentidos) nos faz mais fortes.

Marcelo Leite

International Certified Coach. Agile Coach na Lambda3. Agilista criativo, curioso e detalhista, apaixonado por música, cachorros, técnicas de facilitação, cultura organizacional e comportamento. Criador do Agile Momentum, blog que fala sobre agilidade com personalidade & criatividade.