É sabido que a democracia vive uma dualidade, onde tem como valores de base dois princípios quase antagônicos: a liberdade e a igualdade. Dê liberdade ao povo, e ele se diferenciará, ficando cada vez menos igual. Imponha igualdade ao povo, e ele será menos livre para criar e se diferenciar.

A liberdade, dada a povos de poucos valores, como os que existem desde sempre, e que historicamente já abraçaram com alegria e entusiasmo a escravidão, o fascismo, o nazismo, e todo tipo de abuso, gera uma entidade (“o povo”), em sua média, absolutamente ignorante, corrupta e incapaz. Esse povo já abraçou alegremente todo tipo de abusos e consistentemente escolhe como seus representantes homens da pior natureza. Esse é um dos motivos que se diz que a democracia é o menos pior dos sistemas de governo, e não o melhor.

Esse problema fica evidente quando trabalhamos a democracia na organização. Uma empresa é um subconjunto da sociedade, uma microsociedade. E a empresa pode escolher seus membros, ver quais funcionam dentro dos seus valores e ideais (e consequentemente quais não funcionam). Isso é uma grande vantagem quando comparada à democracia estatal, que não pode escolher quem entra na sociedade (nascendo, já que imigrando isso é possível), e que só demite alguém em casos extremos, quando restringe a liberdade de alguém e o coloca na prisão.

Assim, a empresa pode evitar o problema do homem do povo ignorante, corrupto, preguiçoso e covarde, algo do qual a sociedade e o estado não podem fugir. Pode conciliar liberdade e igualdade, se puder escolher homens, senão iguais em sua totalidade, iguais em ideais. Homens não covardes.

A dualidade de valores viva na democracia do estado não precisa ser a dessa microsociedade. É possível ter liberdade e igualdade quando os membros de uma sociedade são corajosos. E isso significa não ter medo das coisas que a maioria das pessoas da macrosociedade tem, como medo de ser transparente, de falar a verdade, de manter seus valores, de permitir que a individualidade aflore e que ela seja cultivada, de ser ético e justo, de perder dinheiro em um negócio, ou sequer de agradar a todos. A sociedade democrática que funciona só pode ter por base pessoas corajosas.

No entanto, a sociedade democrática que funciona e o homem de coragem são um alvo constante da mediocridade e dos defensores do status quo. O corajoso lembra constantemente o covarde da sua condição. A empresa livre e igualitária lembra a todo o tempo a empresa escravizadora, totalitária e improdutiva da sua mediocridade e da sua incapacidade de ser melhor. Os esforços reacionários e politicamente corretos, que pregam que todos devem ser iguais, e portanto menos livres (por imposição de uma mediocridade, idiotia e improdutividade), são constantes.

O homem medíocre e reacionário, por ser covarde, quando está numa posição de decisão, luta contra a liberdade. E usa todo a infraestrutura do politicamente correto como embasamento para impor sua mediocridade, sob pretexto da igualdade. A força da macrosociedade medíocre, do “povo” que tudo sabe, é usada para justificar o nivelamento por baixo, e o fim da inovação, do pensamento diferente. Se você é esse tipo de pessoa, entenda que eu farei de tudo para lhe tirar da posição de decisão que você ocupa hoje. Meus esforços se concentram em fazer a liberdade fluir. Os esforços dos que buscam tal liberdade em geral incomodam o covarde, já que ele tornará evidente que o conceito de igualdade implica merecimento, mérito e esforço, e não é algo naturalmente conquistado. O preguiçoso quer igualdade, quer ser igual ao esforçado (mas sem se esforçar). Não é, e sua natureza preguiçosa e acomodada, dificilmente permitirá que o seja algum dia. A liberdade evidencia isso.

Como então criar uma empresa democrática e que ao mesmo tempo funciona? Contratando homens de coragem, estimulando a ética e a verdade, e não vergando diante de facilidades efêmeras.

Empresas que pregam democracia, igualdade ou liberdade, e continuam a contratar seres imorais, preguiçosos, sofistas e políticos, continuarão a produzir o que sempre produziram: baixa produtividade, medo e vergonha.

Que tipo de pessoa você é? Em que tipo de empresa quer trabalhar? Que tipo de empresa quer contratar para trabalhar com você? Você é um homem de coragem, ou o tipo que faz de tudo para agradar o tirano, seja ele um homicida totalitário, seja ele um diretor egocêntrico? Você tem orgulho das suas ações, contaria os teus atos para os teus filhos, para teus irmão, para teus pais?

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.