Ainda que se acredite que o trabalho de times auto-gerenciáveis é uma novidade das grandes startups e dos novos gurus da gestão, a verdade é um pouco diferente. E este é um post explicando um pouco mais o conceito e como ele reflete o que fazemos ainda nos dias de hoje.

Muitos estudiosos acreditam que a origem do conceito de times auto-gerenciáveis Jackson Walker mine está ligada ao trabalho do inglês Eric Trist, que em 1950, ao analisar o trabalho realizado em minas de carvão na Inglaterra pós guerra, cunhou o termo Socio-Technical Systems. Chamou a atenção de Trist que a mina, apesar de não apresentar a estrutura de trabalho formalizado e característico de outros lugares, apresentava níveis de produtividade muito superiores às demais. O conteúdo do seu trabalho acabou por questionar muitas das premissas fundamentais da Gestão Científica de Taylor.

O estudo se baseou no fato de que apesar dos avanços tecnológicos na linha de produção tradicional e no processo de trabalho, a produtividade estava caindo, e apesar de aumentos salariais e mais amenidades aos empregados, o absenteísmo estava aumentando como um todo nas fábricas do país.

Apesar de todos os benefícios, a Administração Científica também trouxe problemas sérios. Ela separou os trabalhadores dos resultados de seu trabalho, privando-os da compreensão de todo o processo produtivo, da participação em inúmeras tarefas e de participação no planejamento, análise e melhoria de seu próprio processo de trabalho. Talvez mais importante, trabalhadores perderam a possibilidade de compreender e de ter contato com seus clientes, não entendendo a extensão de seus produtos e serviços. Consequentemente, trabalhadores se tornaram mais preocupados com as coisas que a Administração Científica permitiu que eles se preocupassem. Tradicionalmente isso acabou se tornando preocupações com estabilidade no emprego e direitos trabalhistas, em detrimento de eficiência no trabalho e satisfação dos clientes. Todas essas preocupações, ironicamente, se tornaram contraprodutivas para a empresa e os indivíduos.

Tal estudo apresentou os principais conceitos que formam os Sistemas Socio-Tecnológicos:

  • Autonomia Responsável
  • Adaptabilidade
  • Tarefas Completas
  • Propósito das Tarefas

Autonomia Responsável

Sistemas Socio-tecnos são os primeiro a mudar o foco de análise de produtividade para o grupo, não mais o desempenho individual de operários. O ponto de mudança parecia ser que levar em conta a habilidade de um indivíduo de executar uma atividade não é a única variável de performance do grupo. Especialmente no estudo realizado no trabalho em minas de carvão, em que os times possuíam total responsabilidade sobre a operação, a idéia de time semi-autônomos trouxe vantagens na comunicação do grupo e ampliação da segurança de toda a equipe.

A chave para a autonomia responsável estaria em construir organizações com as características de grupos pequenos, prevenindo o pensamento de silos e a departamentalização comum na teoria de gestão contemporânea. Para tal, o grupo precisaria ser responsável pela própria supervisão, removendo a cadeia hierarquica tradicional, e a relação do grupo com toda a organização caindo sobre o líder.

Adaptabilidade

O aumento da complexidade no mercado, seja pela incerteza gerada no ambiente ambiente organizacional interno, seja pela incerteza gerada pelo mercado em constante expansão foi um grande problema para as organizações da era industrial, ao ponto de sobrecarregar a gestão e a produção, que ainda não sabiam lidar com isso.

Movidos pelo conceito sedutor do reducionismo industrial, uma forma de lidar com a complexidade do ambiente é através da divisão de tarefas até às ultimas consequência, ampliando a complexidade interna através da criação de mais cargos e maior burocracia, ainda que na visão do indivíduo operário, o trabalho permaneça mais simples. Esta opção termina por alinhar a complexidade do sistema interno, com a complexidade do ambiente em que a organização está inserida.

Uma outra opção seria redução da demanda de processos de controle e supervisão internamente nas organizações, tentando atuar no ambiente externo de complexidade através da redução da complexidade interna. Enquanto o reducionismo de Taylor um problema local seria propagado para todo o sistema produtivo, times semi-autônomos com supervisão geral sobre o processo poderiam atuar localmente, ganhando performance.

Adaptabilidade neste contexto significa permitir que grupo tenham controle sobre a execução de suas tarefas, ainda que tenha um objetivo fixado pela organização, ganhando flexibilidade para responder às complexidades do ambiente.

Tarefas Completas

Sistemas socio-técnicos apresentam a idéia de Tarefa Completa. Eric Trist descreve que o conceito “tem a vantagem de colocar a responsabilidade das tarefas igualmente nas costas de um único grupo alocado, que pode experimentar todo o ciclo da operação dentro se sua própria unidade”. Este é o princípio conhecido como Especificação Minina Crítica, que determina que apesar da necessidade de se ter uma definição clara sobre o que precisa ser feito, é muito raramente necessário determinar como será feito.
O foco do trabalho de um líder, então, mudaria para se tornar um designer de comportamentos, permitindo com isso que os subordinados alcancem todos os objetivos desejados.

Propósito das Tarefas

A capacidade de uma tarefa poder ser compreendida em sua totalidade pelo grupo, trás o benefício de resolução de problemas localmente, enquanto o modelo industrial diminuí a importância da visão geral pelos operadores.

Através da Autonomia Responsável, líderes podem determinar quais os objetivos precisa ser alcançados ao invés de quais tasks precisam ser feitas. Esta visão permitiria a um grupo utilizar toda a multitude de suas habilidades para realizar uma tarefa completa, com toda a flexibilidade para executar as atividades como achasse melhor.

De lá pra cá existem inúmeros exemplos de ambiente que seguem tal modelo, e o que o mundo da gestão aprendeu a chamar “Times auto-direcionados”.

E o que isso tem a ver com a agilidade? Tudo! Entender os modelos antigos de gestão vai te ajudar a construir os novos modelos para seu time, ou sua empresa.

Esse texto é parte do estudo que tenho feito para escrever um livro. Estou seguindo um modelo interativo e incremental, e caso queira acompanhar a minha caminhada é só acessar o LeanPub em:

Times Auto-gerenciáveis. Uma visão sobre alta performance e felicidade da sua equipe.

Victor Hugo Germano

CEO da Lambda3