Resolvendo um problema que eu mesmo criei? (http://www.flickr.com/photos/daniel-davies/4885899714/)O título desse post defende um ponto de vista muito comum para a existência do gestor. Muito defendido por quem vê o mundo do ponto de vista da Teoria X, esse tipo de crença tem produzido resultados aquém dos esperados, algo que vem sendo comprovado cientificamente.

Quem acredita que as pessoas precisam ser empurradas defende a existência do gerente (e seus semelhantes: diretores, presidentes, etc). E eles tem dados, vão mostrar diversos casos em que, não fosse o gerente, as pessoas não estariam trabalhando com tanta dedicação.

Quando a Teoria X e a Teoria Y surgiram, e junto com outros estudos começaram a demonstrar a falibilidade do argumento de que o gerente era necessário, começaram a surgir correções no modelo de gestão tradicional. Os donos do poder (modernos feitores de escravos), ávidos por não perderem esse poder, e com ele seu status, começaram a ~se adaptar~ aos novos tempos. Isso significava aumentar um pouco o tamanho da corrente que prendia o funcionário a mesa. Mas ela continuava lá. Com isso nasceu o horário flexível, a meta extendida, entre outras pseudo-liberdades, que nada mais eram do que novas formas de manter o controle.

O X da questão (já que estamos na letra) e que a gestão tradicionalista ainda não entendeu, é que os gerentes são a causa da falta de iniciativa e motivação dos próprios funcionários que eles gerenciam. É a falta de autonomia que advém da mera existência do gerente uma das maiores causadoras da apatia encontrada em tantos escritórios mundo afora.

Quando motivada externamente a fazer uma atividade, mesmo se for algo que se gosta naturalmente, a motivação intrínsica que impulsionava anteriormente sofre. Algo que antes era prazeroso, agora que é impulsionado por uma recompensa externa torna-se menos interessante. Tire da pessoa a sensação de escolha de fazer ou não fazer algo, e verá sua vontade de fazê-lo diminuída. Autonomia, tem-se comprovado, é o principal motivador que podemos encontrar, superando outros motivadores instrínsecos, como o senso de contribuição. Pesquisas feitas há décadas por Edward Deci, que resultaram na Teoria da auto determinação (Self Determination Theory, ou SDT), mostram que incentivos externos, como bônus ou promoções, removem do trabalhador a sensação de estar dirigindo as próprias escolhas, o que acaba matando suas motivações iniciais, como a paixão por determinado assunto. Os estudos foram comprovados inúmeras vezes em laboratório, pela chamada psicologia comportamental, uma divisão da psicologia que não se contenta em dizer que algo funciona baseado apenas em achismos, mas vai ao laboratório testar suas hipóteses.

Como resolver? Livremo-nos dos gerentes, e busquemos uma nova palavra. Muitas começam com “auto”: auto-motivação, auto-gestão, auto-organização. As pesquisas de Douglas McGregor, criador da Teoria Y,  mostram que os limites de produtividade e os resultados são muito menores, algo que ele apresentou no seu livro The Human Side of the Enterprise, a nada menos do que 50 anos atrás.

No desenvolvimento de software já aprendemos a fazer isso: chamamos de desenvolvimento ágil. A gestão na nossa área já está um passo adiante, ainda que não toda ela. Temos sorte. E as outras áreas tem começado a perceber, já que revistas como a Forbes e Harvard Business Review, tradicionalistas em diversos assuntos, mas ainda assim pragmáticas, tem insistindo em divulgar as novidades, ainda que em agile menos baseadas em pesquisas, são baseadas em fatos e resultados.

De fato, os gerentes vieram pra ~resolver~ um problema. Só não perceberam que eles mesmos eram os causadores do problema. A ciência já provou que podemos ser melhores. Falta apenas as empresas abandonarem suas crenças que não possuem qualquer embasamento na realidade e adotarem o que a academia já descobriu a décadas.

Em que tipo de empresa você trabalha? Em uma em que os gerentes acreditam que precisam motivar os trabalhadores com motivadores externos (além de acreditarem no saci e no papai noel)? Ou em uma em que utiliza os conhecimentos científicos que a engenhosidade humana foi capaz de produzir no último século?

E você? Que tipo de pessoa você é? Acha que bônus motivam ou desmotivam? Se ainda se apega às antigas crenças, talvez seja a hora de buscar entender um pouco mais sobre como as pessoas funcionam. Fica a dica.

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.