Depois da reclamação do Rob Eisenberg, do comentário do Jeremy Miller e do Rob Conery, sinto que está na hora de eu me pronunciar, até porque não vi ninguém se pronunciando em português.

(Disclaimer: eu sou MVP há 3 anos.)

O Eisenberg reclama que perdeu o MVP porque a Microsoft não valorizou suas contribuições em projetos Open Source. Antes eu gostaria de lembrar que “perder” o MVP é o termo errado. O MVP não é perdido, o que acontece é que o MVP é um reconhecimento que tem seus benefícios válidos por um ano. A cada ano ele pode ser renovado ou não. Ele não perdeu o MVP, ele simplesmente não teve os benefícios renovados. O award foi dado, e ele ainda pode se dizer MVP se quiser. Entenda um pouco mais sobre o programa MVP aqui.

Com relação à valorizar as contribuições para projetos Open Source, acredito que isso é FUD. Os critérios exatos para entregar o reconhecimento são exclusivos da Microsoft. Quem paga pelo programa é ela, quem dá o reconhecimento é ela, os critérios são dela (o Miller também deixa isso bem claro). E dizer que contribuição para Open Source não é considerado é assumir que você acompanhou o processo de nomeação de ponta a ponta e o conhece profundamente. Isso não é verdade pra ninguém que realmente não tenha participado do processo, e todos que participam são funcionários da própria Microsoft. De fato, a planilha de reconhecimento e o site que mostra as atividades de um MVP não tem espaço para projetos Open Source, mas eles não são a única forma de comunicar suas atividades. Além disso, há espaço na planilha para “outras atividades” e tais atividades são levadas em consideração.

Dizer que um MVP não influencia o processo de desenvolvimento de um produto é um absurdo. Eu já fiz inúmeras sessões de feedback e vi meu feedback implementado nos produtos diversas vezes. Já levei amigos para dar feedback para a Microsoft, tanto no Brasil quanto junto aos times de produto lá fora. A comunidade toda influencia, o MVP influencia ainda mais. Vou dar um exemplo concreto. Depois que subi a sugestão de habilitar DVCS no TFS no Visual Studio User Voice a Microsoft entrou em contato comigo e fiz algumas sessões com eles pra explicar exatamente o que eu queria. Levei pra eles as expectativas que eu vejo no mercado e na comunidade com relação a esse assunto e outros. Meus feedbacks estão sendo levados em consideração e vejo-os ajudando a moldar a próxima versão do produto.

Rob Conery fala que gostaria que o processo de desenvolvimento da Microsoft fosse mais aberto, de forma que ela não precisasse de programas como o TAP (technology adoption program), ou que os MVPs fossem um grupo que recebe informações antecipadamente. Ele esquece que a Microsoft desenvolve propriedade intelectual e vende isso depois, e o segredo em muitos casos é a alma do negócio. Abrir uma novidade antes da hora pode acabar com sua vantagem competitiva. Tanto é assim que Google, Apple e diversas outras empresas fazem o mesmo, inclusive as que defendem de forma hipócrita um modelo mais aberto. Acredito que a decisão de quanto abrir e como abrir é de cada empresa, e ninguém tem nada com isso. A empresa não está investindo dinheiro público no projeto, o dinheiro é dela, ela faz o que bem entender com ele.

Eisenberg ainda fala que a qualidade dos MVPs varia. Oras, isso é o mesmo que dizer que as bananas de um cacho não são iguais. Lógico que não são iguais. MVPs são pessoas e pessoas são diferentes. Além disso, temos que entender que alguém é reconhecido por auxiliar a comunidade a entender alguma tecnologia. Ele reclama que uma MVP ganhou o reconhecimento por ter ajudado a divulgar uma tecnologia que ela nunca usou pra construir nada. Oras, se ela gosta da tecnologia, se empolga com ela, testa, experimenta, e compartilha essa informação, isso é ruim? Me parece uma visão muito negativa sobre um entusiasta de tecnologia. Muitas vezes as oportunidades para usar a tal tecnologia não aparecem. O que você faz? Esquece que gosta dela, que se empolga com ela? Vejo muita gente que nunca vendeu nenhum projeto de Windows Phone, ou de F#, ou de Azure, falando sobre esses produtos. Porque isso seria um problema? Esse ano eu palestrei no TechEd sobre C# 5. E eu nunca construí nada com C# 5. E sabem porque? Porque ele não foi lançado ainda! Eu não deveria ter palestrado sobre ele, ou me empolgado com ele?

De fato, MVPs são diferentes. Contratar um MVP só porque ele é MVP é tão ruim quanto contratar uma pessoa só porque ela é formada, ou é mestre em algo, ou doutor, ou PhD, ou tem um MBA, ou tem certificação qualquer. Até porque apenas conhecer uma tecnologia não quer dizer saber aplicá-la. Ainda assim, o Eisenberg diz que ser um MVP faz mal à carreira. Pra mim isso é um total absurdo. Pra mim sempre foi o oposto. Alguns tempo atrás eu era  consultor independente, e então recebi o reconhecimento. Quando ele veio a demanda pelo meu trabalho subiu muito. A chance de você contratar um MVP ruim é muito pequena, mas isso não quer dizer que ela não existe. Mas eu diria que é muito mais um problema de quem contratou sem verificar quem realmente a pessoa era e o quanto conhecia.

E gostaria de lembrar que em sua imensa maioria MVPs são pessoas com excelentes qualidades técnicas. Apenas pra lembrar de alguns cito o recém nomeado Elemar Jr (C#), além dos mais antigos Fabio Galuppo (C++), Victor Cavalcante (ASP.NET), e Israel Aéce (WCF). Quem em sã conciência diria que estes profissionais não são um exemplo de conhecedores nas tecnologias em que foram reconhecidos?

Há ainda muita gente que diz que a Microsoft amordaça o MVP, impedindo ele de falar o que quer. Isso é uma mentira deslavada. Eu mesmo (e também os outros MVPs da Lambda3 – Victor Cavalcante, André Dias e Igor Abade) estou sempre apoiando o pessoal de outras comunidades, falando de Ruby, Java, Linux etc. Aliás, estamos bem acostumados de codar em outras plataformas, com outras linguagens. Todos temos código publicado, em produção, em outras plataformas. Conhecemos ou somos amigos de diversos líderes de outras comunidades, como os amigos Vinicius e Yara Senger, Paulo e Guilherme e Silveira, Rafael Fu, Carlos Brando, Luciano Ramalho, Fabiane Nardon, etc… e nos encontramos frequentemente com eles, além de apoiar seu trabalho. O legal é que mantemos com essas pessoas uma atitude de absoluto respeito e admiração, que percebemos recíproca. No entanto, dentro da comunidade Microsoft ou das outras há pessoas que não atentam para tal atitude e agem muitas vezes de maneira imatura.

O que eu vejo é que muita gente se incomoda com o grupo restrito, onde não são todos que podem entrar, como é por natureza um grupo onde as pessoas são premiadas, como o MVP (vejam que é o mesmo caso de outros prêmios, como o Java Champion). Surgem diversas atitudes violentas, com gente apontando dedo, reclamando. Antes de mais nada acho que essas pessoas tem que conhecer do que estão falando, entender o programa (inclusive tirando os mitos e preconceitos do programa de suas cabeças). Depois, acho que tais pessoas deveriam ter coragem de, primeiro, sair do anonimato e assumir responsabilidade pelo que falam publicamente, segundo, encarar de frente as pessoas que criticam, de forma transparente e aberta. Eu nunca tive nenhuma conversa com um grande crítico do programa MVP. Quem o faz, o faz por trás de um nome falso, ou se esconde no mundo virtual, nunca aparecendo nos diversos eventos e encontros da comunidade para uma conversa franca. Isso me parece no mínimo covarde, no pior caso demonstra puro mal caráter.

Concluo dizendo que estou aberto às críticas e estou disposto a levar a conversa adiante. Convido os grandes críticos (aos que não são hipócritas ou covardes) a um bate papo franco e pacífico, inclusive registrá-lo em vídeo ou áudio. Se quiserem, podemos até gravar um Tecnoretórica sobre isso, prometo publicá-lo sem edições que tirem as pessoas de contexto ou tirem seu direito a falar (como sempre fiz). E convido todos a lembrar que somos todos parte de uma mesma comunidade, tentando fazer software direito, em uma indústria ainda muito jovem e que precisa de união se quiser sair do estado calamitoso que se encontra hoje.

Para saber mais:

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.