Vindo de encontro ao que tem sido debatido aqui nos últimos dias, não quero bater na mesma tecla sobre a função ou cargo, ou nome, ou papel do gerente, eu quero debater sobre o que realmente me incomoda, que é o comando e controle.

Recentemente o Elemar fez uma explicação sobre “Liderança Situacional”, que basicamente defende que o Líder precisa assumir um estilo de liderança de acordo com a maturidade do seu time. Logo são definidos 4 níveis de maturidade para os liderados. Explicados a seguir, nas próprias palavras do Elemar:

M1 – Sempre que alguém está assumindo uma nova posição, não tem condições de determinar plenamente a execução de suas atividades. Precisa de orientação clara sobre o que precisa ser feito (comando). Mais que isso, como não tem referenciais de performance, precisa de um bom nível de acompanhamento (controle).
M2 – Apenas após algum tempo no exercício de uma atividade (em seu novo contexto), o indivíduo tem condições de começar a colaborar efetivamente na definição do que precisa ser feito. Aí surge o famoso “penso em fazermos algo assim. O que você acha?!” partindo daquele que está “gerenciando/influenciando” as atividades.
M3 – Uma sequência de “sugestões” acertadas indica que o indivíduo tem condições de avançar. A pergunta agora é “Temos esse problema, como você resolveria?”
M4 – Grandes poderes, grandes responsabilidades! Por fim, com o tempo, deixa de ser necessário que saibamos o “como”. Podemos nos concentrar no “o que” precisa ser feito! O indivíduo tem condições de fazer o trabalho sozinho e saberá pedir ajuda, quando necessário. Ocorre a delegação!

Concordo que deste ponto de vista o comando e controle faz muito sentido, que isso explica outras coisas, como o exemplo da faculdade. Como todo estudante é inexperiente, ele não sabe o que ele precisa aprender, assim alguém mais experiente, no caso um conselho de professores da faculdade, define o que é importante e o que o aluno deve estudar. Comandando os estudos e controlando o aprendizado através de avaliações periódicas.

Estes são argumentos aparentemente bem concisos e fáceis de entender, o problema é que na verdade esta forma de pensar tem criado problemas muito mais severos para a educação e hoje existe realmente uma convergência para se fazer exatamente o oposto do que o comando e controle sugere.

Aprendizado não precisa ser comandado e controlado

É verdade que um aluno é inexperiente ao entrar na faculdade, porém isso não quer dizer que ele não possa tomar decisões sobre o que ele precisa aprender.

150 ANOS sem evoluir

Como diz Ricardo Semler nesta palestra a Ministros de Educação no LATWF, o sistema educacional vê o aluno como um produto do seu trabalho, que hoje funciona exatamente como uma linha de montagem aos moldes de Henry Ford. Ressaltando que na verdade o setor educacional é um dos setores mais arcaicos da nossa sociedade.

Aprendizado inútil

Gilberto Dimenstein, neste programa de rádio da revista TRIP,  concorda que ensinamos as coisas erradas para as pessoas, ou seja, que as tais pessoas experientes que deveriam saber escolher o conteúdo certo não tem feito um bom trabalho nesta escolha. O exemplo é a FUVEST que tem uma enorme carga de conteúdo que nunca será utilizada. Ainda completa que caso se aplique uma FUVEST em qualquer professor PhD da USP ele irá certamente reprovar.

Não conheço nenhum aluno de faculdade que tenha usado todo o conhecimento adquirido na faculdade, na verdade, o que acaba acontecendo é que estes alunos usam na verdade um pequeno percentual do conhecimento da faculdade e na realidade eles precisam aprender mais uma outra grande carga de conteúdo fora da faculdade sobre uma área específica.

E se o aluno escolhesse?

Não seria melhor se este aluno pudesse ter optar em escolher estudar somente estas matérias nas quais ele tem interesse e conseguir se aprofundar dentro da faculdade mesmo? Assim ele não aprenderia a carga imposta pela faculdade que ele acaba esquecendo depois e aprenderia coisas que ele vai precisar aprender fora da faculdade de qualquer forma.

Forçar o aluno a aprender coisas que ele não quer aprender, é matar motivação do aluno. E não ha nada mais precioso do que a motivação do aluno em um ambiente de ensino, professores devem estimular isso o máximo possível, como disse a professora Maria Schuler em algumas conversas que tive com ela: o aluno é o cliente da faculdade e não o produto, no caso contrário você estimula as pessoas ao comportamento medíocre, ou seja, a fazerem sempre o mínimo necessário.

Por que é tão difícil acreditar que a melhor pessoa para escolher o que o aluno quer aprender é o próprio aluno? Porque existe uma percepção na sociedade de que estes alunos não estão interessados em aprender, eles só querem o diploma, para arrumarem um emprego.

Desinteresse geral, consequência do comando e controle

Pois é porém isso também é uma consequência do nosso sistema atual de educação. Como explica Ken Robinson (nesta apresentação fantástica no TED): as escolas são organizadas para os propósitos da industrias, sem levar em consideração os interesses dos estudantes. Assim desde crianças eles aprendem que escola é uma coisa chata, ao mesmo tempo que são bombardeados por diversas plataformas muito mais estimulantes como celulares, computadores, videogames, etc.

Ken expõe como o sistema atual está destruindo a criatividade das crianças e podando qualquer interesse que estas possam vir a ter em aprender. Por isso ele destaca a necessidade em mudar os atuais paradigmas de educação.

Então o que fazer?

Ziraldo, nesta entrevista, diz: “A escola não deve só ensinar a ler. Ela tem que ensinar a GOSTAR DE LER.“. Claramente no mesmo ponto em que acaba o palestra do Ricardo Semler, quando ele diz que “devemos ensinar as pessoas a aprender”.

Silvio Meiranesta palestra do TEDx São Paulo, explica como deve funcionar o sistema educacional. Precisamos sair de um sistema Just In Case (vamos ensinar tudo, só no caso dele precisar) para um sistema Just In Time (onde só vamos ensinar se ele precisar), e que para isso precisamos de um “nível meta” que é o mesmo ponto do Ziraldo e do Ricardo Semler: “aprender a aprender”.

Concluindo

Assim podemos ver pessoas de diferentes contextos e realidades falando exatamente a mesma coisa. É necessário uma grande reforma no sistema educacional. Tudo isso demonstra como o comando e controle é nocivo para a educação e graves consequências que tem trazido para a nossa sociedade.

É principalmente no estado M1 onde o comando e controle é mais predatório, porque é no começo que devemos ensinar a pessoa a caminhar com as próprias pernas e não podar toda a sua criatividade e interesse.

Raphael Molesim

Desenvolvedor de software, ciclista, agilista e entusiasta da lingua polonesa. Trabalha ha 5 anos com desenvolvimento de software, se divertindo com .NET, Java e Ruby. Tenta até hoje achar uma resposta de como construir um mundo melhor através do desenvolvimento de software.