Tive essa discussão recentemente no trabalho. Existe uma certa divisão de opiniões, algumas pessoas acreditam que gestão de projetos é fortemente influenciada pelo relacionamento, chegando a até 80%, e outras acham que isso é muito.

Para mim, relacionamento na gestão é importante. Muito importante. Ainda mais para mim, que trabalho em uma consultoria, e quase todo mundo é meu cliente. Se bobear, até a planta que fica do meu lado é minha cliente. Enfim, num cenário desse, se eu não souber gerenciar meu relacionamento eu estou morto profissionalmente. Isso sem nem falar de GP. Quando entra nesse mundo, então, relacionamento fica ainda mais relevante.

Ainda assim, não acho que assuma 80% da gestão. Na verdade, não acho que assume 25%. Acho que relacionamento deve ser bem feito, e deve ser priorizado. Mas dizer que gestão é relacionamento fere as estatísticas. Eu adoro estatísticas, e não consigo deixar de considerá-las:

Vejam este artigo da IBM de 2006. Se você não quiser ler eu vou adiantar: A taxa de sucesso subiu linearmente de 1994 a 2003, de 16% para 31%, ou seja, quase dobrou em 10 anos, segundo o Standish Group. O autor diz que o motivo concreto ainda é desconhecido, mas que metodologia e ferramentas melhoraram a produtividade. Ainda assim, diz ele, podemos neste momento estar eliminando as barreiras mais fáceis e essa taxa de melhoria pode não se sustentar. Segundo ele, o segredo está numa análise de requisitos mais bem feita.
Oras, que novidade! Todos nós, que trabalhamos em projetos de software, sabemos que na maior parte das vezes o cliente não sabe o que está comprando, não lê documento de requisitos (e aprova mesmo assim), e vai fazer um monte de solicitações de mudança quando tudo já está praticamente pronto, causando uma bruta dor de cabeça para todo mundo, além de uma boa perda de dinheiro. Certíssimo, concordo com a IBM, precisamos melhorar as técnicas de elicitação de requisitos. O autor até sugere uma estratégia de "risco" aos CIOs, investindo um percentual ridículo em ferramentas e pessoal que resolvessem o problema dos requisitos e avaliassem o retorno. Ele aposta em um retorno positivo.

Existem outros artigos semelhantes, assim como outras fontes de dados. Praticamente todas apontam a melhoria da técnica (de gestão de projetos, de engenharia de software ou relacionadas) como resultado da taxa de sucesso em projetos. Dizer que o relacionamento foi responsável pelo sucesso dos 31% dos projetos medidos em 2003 seria simplificar e desmerecer o trabalho duro dos gerentes de projetos que trabalharam nestes projetos. Não estamos todos nós buscando técnicas de gestão de tempo, escopo, qualidade, etc… para conseguir realizar apenas 20% da gestão. Afirmar isso seria o mesmo que dizer que um representante comercial seria um melhor gerente de projeto que o melhor PMP do planeta que falhasse levemente no relacionamento.

Não sou dono da verdade, e sendo assim, aproveito para dizer que se eu estiver sofrendo de confirmation bias, serei então Socrático: livrem-me do erro e apresentem outras estatísticas. A conversa vai ser interessante. 

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.