Hoje faz duas semanas que estou indo trabalhar de bicicleta. Ganhei minha bicicleta do cartão de crédito, porque se fosse pra comprar eu não compraria. É uma bicicleta simples, de marchas, e custa cerca de 500 reais. Nenhuma maravilha, mas o objetivo era me motivar a sair com ela. Ficou 6 meses no armário. E finalmente saiu pra sua primeira volta.

Ainda estou aprendendo muito, mas vou relatar aqui como tem sido ir trabalhar de bicicleta nessas 2 semanas.

Em primeiro lugar é bom lembrar que não sou sedentário. Há três anos eu sai do sedentarismo, e perdi 12 quilos na academia em 6 meses. Fiquei mais 1 ano na academia, e então o Hugo Corbucci e a Mari Bravo me convidaram para experimentar a escalada. Faz um ano e meio que escalo de duas a quatro vezes por semana. E me divirto muito. Abandonei a academia, a esteira, e os pesos.

Escalando

Só que a escalada é um esporte anaeróbico, e a bicicleta demanda pulmão. Ela me lembrou isso de cara. No primeiro dia eu me dei de cara com uma subida na frente do teatro do colégio Santo Agostinho, no começo da rua Apeninos (continuação da Tamandaré), que não é nada fácil:


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Tive que descer da bicicleta e empurrar. Não havia outra opção.

São apenas cinco quilômetros da minha casa até a Lambda3, que fica na Frei Caneca. Nada a se temer. O problema são os dois quilômetros de subida.

Logo aprendi que não posso fazer de bicicleta o mesmo caminho que faço de carro ou de moto. Nos dias seguintes passei a buscar alternativas. Atualmente subo pela vergueiro, que é subida mas é constante e tranquila.

Descobri que meu fôlego reapareceu rápido. Em uma semana estava conseguindo chegar na Lambda3 tranquilamente, sem ficar acabado. A volta sempre é fácil, já que é plana na área da Paulista, e depois só pego descidas.

Há uns 15 anos eu só ando pela cidade de moto, só pego o carro quando sei que vou conseguir fugir do trânsito. Sextas-feiras, por exemplo, não saio de carro de jeito nenhum. Pois bem, de carro eu levo, pasmem, quase 45 minutos para percorrer os 5kms. De moto levo de 15 a 30 minutos, dependendo do trânsito, já que sou um motociclista consciente. E de bicicleta? De 30 a 35 minutos. Chego mais rápido do que de carro, isso considerando que na subida, pelo menos por enquanto, sou uma lesma. Chego na Lambda3 pela Rua São Carlos do Pinhal, paralela à Paulista. Nesta rua, eu sempre deixo absolutamente todos os carros para trás. Nenhum me alcança. Chego antes. Impressionante.

Na segunda semana quebrou o pedal da bicicleta e eu aprendi que preciso procurar as bicicletarias no meu percurso. Ainda não fiz isso. Quando aconteceu eu estava chegando na Brigadeiro Luis Antônio com a Paulista. Desci até quase o Viaduto Jaceguai (logo antes da Radial Leste) para achar uma bicicletaria. Mas descer não foi problema, e sim subir tudo de novo depois. Da-lhe fôlego, mas foi tranquilo. Atrasei quase uma hora.

Tenho chegado na Lambda3 bem cansado e suado. Nada que alguns minutos descansando antes de subir não resolvam. Vou reabilitar o chuveiro na empresa, que está desligado, e vários outros Lambdas estão se animando pra pegar a bicicleta.

Um dia desses sai da Lambda3 à 1 da manhã. Foi uma delícia andar de bicicleta esse horário na Paulista vazia. Vejam se não é ótimo: acordei meio dia, codei em um projeto super divertido (Boo, CoffeeScript, Azure) até a uma da manhã, passeei na Paulista no começo da madrugada. Dormi feliz nesse dia.

Notei que preciso ficar atento no trânsito. Estou evitando vias principais, como a Av. Paulista, e os carros não respeitam bicicletas. Um taxista tentou passar em um semáforo (muito) vermelho, quase vem parar em cima de mim (e dos pedestres em volta). Nem os motoqueiros, que tanto reclamam do desrespeito de carros, ônibus e taxistas respeitam bicicletas. Lamentável. Por outro lado, os reflexos que a motocicleta me trouxe ajudam a antecipar os problemas, como quando um carro vai me fechar. Aprendi também que o freio de uma bicicleta nem de longe se equipara ao de uma moto, e que se o passo apertar eu não consigo, por enquanto, acompanhar no pedal, não consigo acelerar rápido.

Nos dias que fui de moto ou carro me senti “roubando” no jogo. Sinto que não preciso mais deles. Eu costumava levar o notebook para o trabalho, o que me obrigou a ir de moto na 2a e na 6a. Arrumei uma máquina na empresa, agora vou de bicicleta todos os dias.

Parece incrível, mas em duas semanas perdi peso. Peso que não perdia na escalada ou na academia, aquele restinho dos 7 anos de sedentarismo. Meu fôlego pra escalar está muito melhor, o que já indica o que eu já sabia: depois de uma hora escalando, entramos no aeróbico (e normalmente ficamos de 2 a 4 horas escalando). Chego em casa morto, mas feliz por ter me livrado da gasolina e do trânsito.

Convido a todos a repensar a opção de transporte que vocês utilizam. Será que não dá pra começar devagar? Para o carro alguns quilômetros antes, pedala até o trabalho. Você vai chegar no trabalho mais feliz.

Agradeço a inspiração e as dicas do Claudio Kerber (@oclaudiobr), que além de grande e reconhecido defensor da agilidade é também um dos poucos que defende andar de bicicleta pela cidade, e pratica isso todos os dias. Percebi que se ele consegue, eu também devo conseguir. E caso vocês se animem, ficam convidados a se juntar a nós, tanto no pedal quanto na escalada. Vejo-os por aí.

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.